quinta-feira, 24 de abril de 2014

A arte de saber encantar.

Não sei bem porquê mas tenho estado um pouco ausente da escrita. Não sei se é pela falta de assunto, não sei se é porque me farto com relativa facilidade dos assuntos comuns ou somente porque quando me sinto realmente inspirado estou já com a cabeça deitada na minha almofada.
Há uns dias pensei num texto magnifico para uma pessoa que mais do que ninguém merecia ser referenciada por mim,por tudo o que me passou e pela capacidade de me ter encantado desde o primeiro momento.
Hoje em dia não é fácil encantar alguém até porque as pessoas estão desprovidas de encantamento algum. As histórias estão gastas, são chão sem cultivo, sem cheiro. Muitas das histórias que hoje nos chegam aos ouvidos são despidas de elegância, cultura, de charme, não conseguem cativar. É certo que as ouvimos e que ao jantar as contamos aos nossos familiares mas passados três dias já ninguém se lembra delas.
Certo dia entrei numa casa e conheci um senhor já com uma idade respeitável, tinha um ar afável mas muito seguro de si, empregava as palavras correctas de uma forma calma mas convicta, a sua educação era um mundo novo para mim seduzindo-me e encantando-me a cada gesto seu.
Talvez por ele rever em mim parte da sua vida dedicada ao desporto o nosso encantamento tenha sido mutuo. Jamais me esquecerei dos recortes de jornais que me apresentou pela primeira vez, de como me explicou momentos únicos da sua vida, da criação e desenvolvimento do clube do seu coração, do orgulho da sua terra e das suas raízes familiares, das primeiras idas para Lisboa para o liceu, da Alcântara da minha vida, do meu Atlético e da sua mocidade.
Alguém que dá tanto da sua vida em prol de uma comunidade, de um trabalho, de um clube, tem de ser um ser humano mais especial, tem de ser de eleição. Que me desculpem todos os outros mas esta é a realidade, custe a quem custar, certamente serão muitos, os especiais, os que encantam, que nos arrebatam, que nos marcam para sempre, são estes que nos fazem acreditar na verdadeira capacidade que os humanos tem e não os outros todos que fingem ser especiais mas não o são, são humanos, somente humanos.
Ele como eu tinha alguma dificuldade em acreditar em Deus, espero sinceramente que estejamos enganados, os dois. Até porque se tivermos enganados certamente voltaremos a nos encontrar, seria fantástico.
Acho que as boas histórias de vida dariam sempre os melhores livros pois sempre gostei de vidas de verdade, daquelas vidas que a cada linha escrita dá vontade de ler e reler. Quem não gostaria de ler a vida de um homem que esteve casado durante Setenta anos, que teve três filhos, sete netos, cinco bisnetos, que trabalhou na Mundet anos a fio, uma das maiores fabricas corticeiras do País, que constituiu a secção de Basquetebol em 1945 do Seixal, que assumiu a Presidência do Clube e da mesa da Assembleia Geral. De um homem que apreciava o melhor da gastronomia, que adorava Fados, que tinha uma biblioteca em casa com livros que o próprio tempo fez com que fossem esquecidos mas os quais ele não abdicava. Certo dia atrevi me a levar um livro de Bocage com algum teor erótico pensando eu que ele se iria esquecer e eu o
iria expor numa prateleira de casa orgulhosamente para os meus convidados.Enquanto não lhe devolvi o precioso livro não conseguiu descansar devidamente. Uma pérola rara este ser humano que decidiu deixar um Mundo em que ele fazia toda a diferença.
Este ser humano que sabia encantar chamava-se Egas Godinho, residia no Seixal e deixou o Mundo mais pobre sem a sua presença mas muito mais rico com a sua passagem por ele.
Jamais deixarei este encantamento que tivemos os dois, irá perdurar nos meus actos e nas minhas decisões, irei sempre transmiti-lo nas minhas acções.

O Magnata
Vasco Varão.


quinta-feira, 3 de abril de 2014

O festival das francesinhas.

Não tendo ido ao primeiro festival e porque as saudades já eram mais que muitas decidi ir ao festival da francesinha que decorre na fil nestes dias.
O que me fez ir foram nomes como o Cufra, Capa Negra que fazem deste manjar uma receita de ir aos céus.
Com o que me deparei foi bem diferente do que a minha massa cinzenta andou a pensar o dia inteiro. Admito que tive momentos em que criei água na boca só de pensar.
Para começar o sítio não sendo dentro de um pavilhão e com uma Primavera Invernosa diria que começa logo o desagrado. Nem um aquecedor existe para aquecer pobres almas depenadas. 
Em segundo e talvez o mais importante é que as Francesinhas típicas da cidade do Porto não existem,somente existe uma cópia muito abaixo das menores das expectativas.
Diria até que as próprias casas que fazem deste prato a sua especialidade tem de estar envergonhadas pelo que servem a quem já comeu a verdadeira francesinha.
Doze euros para nem servirem batatas a acompanhar, com pratos e talheres de plástico!? 
Mas fomos a alguma festa de aniversário do filho do Custódio? Fizemos mal a alguém para passado dois minutos a francesinha pedir um cobertor pois já está mais fria do que um bacalhau no congelador.
Para fazerem isto mais valia estarem quietos pois nunca tinha comido no Capa Negra, falaram me maravilhas sobre as suas francesinhas, o que o Magnata comeu de certeza que foi um barrete daqueles bem grandes.
Continuo cheio de saudades de uma boa francesinha como aquela que encontrei no Cufra, estava no ponto.
A única coisa de jeito foi mesmo a companhia excepcional de um bando de desiludidos que só sorriram quando meteram na boca o Gin tônico do Peter's. 
Obrigado Peter's.