Sempre achei que cada macaco devia estar no seu galho e debater-se todos os dias para melhorar as suas aptidões profissionais.
Hoje vinha a ouvir a TSF em mais uma ida para o trabalho e fixei-me no programa Sinais de Fernando Alves. Gosto da voz dele e da maneira como cospe as palavras, gosto também da musica que ecoa por debaixo das palavras dele. Já o tinha ouvido de uma maneira mais descontraída num programa da Rádio Radar e identifiquei-me com as coisas que por ali foram ditas.
Hoje ele trouxe ao seu programa uma entrevista dada por uma filósofa Norte-Americana, Martha Nussbaum.
Fala em algumas teorias sobre a crise com muito fundamento e hoje mais que nunca fez sentido ouvir alguns dos pensamentos desta filósofa pela voz inconfundível de Fernando Alves.
O texto que vão ver a seguir é da autoria de Fernando Alves. Quem preferir ouvir o Podcast vá ao site da TSF.
O seu titulo é "A crise devora a democracia".
A filósofa norte-americana Martha Nussbaum, professora da universidade de Chicago, acaba de receber o Prémio Príncipe das Astúrias das Ciências Sociais, devido ao que o júri considera "um profundo conhecimento do pensamento grego e uma importante contribuição para as humanidades, a filosofia do direito e da política, bem como uma concepção ética do desenvolvimento económico".
Ontem, em Oviedo, ela fez um ar
de espanto quando ouviu dizer que o latim se encontra em vias de
extinção. Isso explica que o jornal ABC tenha escolhido para titulo da
entrevista com Martha Nussbaum esta frase: "A falta de estudos clássicos
é um perigo para a democracia".
Vale a pena ler toda a breve entrevista de Martha Nussbaum ao ABC.
Ela
defende que se não aprendermos a pensar de forma rigorosa e analítica,
se não soubermos construir argumentos filosóficos, seremos "como os
escravos do tempo de Sócrates".
Lembrando que Martha é uma
perita em Ética da Economia, o jornalista espanhol pergunta-lhe se
acredita que o produto interno bruto é a maneira mais exacta de medir a
riqueza de um país. Ela responde que essa é a medida incompleta e
insuficiente e remete para outros índices de qualidade de vida, para as
artes, para a cultura, para a família.
Perguntam-lhe se a
crise e a pobreza podem pôr em perigo as liberdades. Não hesita na
resposta: "Sim, seguramente, a crise traz consigo uma perda de
liberdade. Quem não tem capacidade de poder educar-se para saber eleger
não é livre. Não vale de nada falar de liberdade de expressão, de
liberdade de reunião, de liberdade religiosa (...)quando o sistema
público de ensino sofre cortes e o acesso à cultura depende do poder
económico. A pobreza diminui o poder de decisão das pessoas. Se o acesso
à cultura não é igual para todos, estaremos a perder boa parte da nossa
liberdade".
O jornalista quer saber a opinião de Martha
Nussbaum sobre a ideia (já defendida por muitos) de que " a crise é um
novo totalitarismo, como os do século XX, agora com uma chave
económica". A filósofa norte-americana mostra-se convicta de que " a
actual estrutura económica europeia é uma ameaça para a democracia". Ela
enfatiza o facto de Angela Merkel não ter sido eleita pelos gregos ou
pelos espanhóis e ter, apesar disso, o poder de decisão sobre eles.
"Isso é perigoso", sublinha Martha Nussbaum. "A unidade europeia deveria
ter uma componente política tão forte como é a componente económica".
Estas
palavras de uma pensadora norte-americana lembrando em Espanha que a
crise é uma ameaça à liberdade e, por isso, chamando para a necessidade
de regressarmos às humanidades, coincide com uma iniciativa muito
interessante lançada por filósofos espanhóis, uma série de conferências
sobre o poder da filosofia em tempos de crise. As conferências começaram
a semana passada e decorrem até ao fim de Novembro, sob um lema
estimulante: Enfrentar a vida com filosofia, uma atitude em tempos de
crise.
Ocorre-me que talvez andemos precisados de mais vozes
das humanidades e dos estudos clássicos nos noticiários da rádio e no
pico dos telejornais.
Talvez devamos ir mais aos gregos para não sermos "como os escravos do tempo de Sócrates".
Fernando Alves escreve no português anterior ao acordo ortográfico.
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